quinta-feira, 7 de março de 2013

REIHÔ



   Praticar uma arte marcial não se resume simplesmente em aprender as técnicas, um pouco da história da mesma e da filosofia, a mensagem que ela possa tentar transmitir ao praticante (se for o caso). Há tantos outros detalhes, refinamentos que devemos praticar no dia a dia dos treinos que não nos damos conta e as vezes até fica falho por faltar, fechando a totalidade da prática. Aproveito a oportunidade para pedir desculpas se falto com a explanação desses detalhes e até mesmo o exemplo dentro do DOJO e a cobrança, relembrando a todos os praticantes desses modos.
    O Reihô é literalmente traduzido como “Modos de reverências”, mas, pode ser traduzido como "etiqueta", "maneiras" ou "cortesia." É uma conduta enraizada profundamente na cultura japonesa, e essa conduta é mostrada não somente nas artes marciais japonesas tradicionais, mas, em quase todas as atividades. Para muitas culturas ocidentais pode parecer uma "cerimônia" ou um "ritual", ato até religioso, porém, não é o caso. Essa conduta é elemento da formalidade e disciplina japonesa e é um ato considerado como educação, controle e respeito.

    O que conhecemos como Kata ou forma é vista em cada ato da vida japonesa, em alguns casos esses comportamentos são mais específicos dependendo da circunstância. Um exemplo bem definido dessa formalidade é vista no 茶の湯 Chanoyu ou Cerimônia do Chá, ou condutas corriqueiras como ao entrar em uma casa japonesa, onde os calçados são deixados na entrada (玄関 Genkan).
    Nas Artes Marciais, o Reihô é uma formalidade ainda mais importante e especifica. Foi graças a essa formalidade que muitos Bushi evitaram situações de conflito. A etiqueta foi uma necessidade fundamental na convivência entre os guerreiros. Um guerreiro tinha que agir minuciosamente conforme as regras de etiqueta, como ao entrar em uma habitação, retirar sua espada ou fixá-la na presença de outro guerreiro, mesmo ao sentar-se ou ficar de pé, existia seu lugar segundo as regras. Um exemplo pode ser mostrado ao sentar-se em Seiza (sobre os calcanhares), a forma incorreta de sentar poderia acarretar duas situações perigosas. Uma, a não encostar os glúteos sobre os calcanhares, um oponente repentino poderia aproveitar a falta de estrutura ou Kuzushi para atacá-lo. Dois, poderia parecer que essa elevação dos quadris fosse uma reação ou ameaça de ataque, e com isso, um conflito surgiria.
    Hoje, nas práticas marciais tradicionais, a necessidade da etiqueta e mais formalidade e menos necessidade de sobrevivência, porem, por estarmos treinando técnicas perigosas e muitas vezes fatais, devemos mostrar todo nosso autocontrole, respeito e disciplina com o companheiro, o ambiente e as armas de treino. O estado de 残心 Zanshin (coração, mente e espírito alerta) deve ser permanente, e o reflexo dessa disciplina será transposto para o cotidiano, aprendendo a respeitar a vida e nosso semelhante.
    E também pelo respeito à tradição ancestral, já que estamos recebendo e repassando conhecimentos seculares ou mesmo milenar de uma cultura diferente da nossa, e por tanto, devemos nos comportar com esse espírito integrado a todas essas tradições.
    O respeito, disciplina, gratidão e comprometimento na prática de qualquer arte tradicional no Japão têm uma conotação muito diferente ao visto no ocidente. Esses valores são realmente levados a sério pelos orientais.
    Em geral, no ocidente o comprometimento dura enquanto houver algum retorno, seja ele prazeroso ou material. A intolerância, impaciência e o imediatismo ocidental fazem com que ele enxergue qualquer empecilho ou dificuldade como desculpa para sua falta de disciplina, paciência e comprometimento, ao invés de colocá-los como parte de sua batalha para seu desenvolvimento pessoal.
Fonte (http://www.urawazabugeikai.com.br)

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